terça-feira, março 13, 2012


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O exorcismo, reacção de forças, ataque de aríete, é o verdadeiro poema do prisioneiro.
No próprio lugar do sofrimento e da ideia fixa, introduz-se uma tal exaltação, uma tal magnífica violência, unidas ao martelar das palavras, que o mal progressivamente dissolvido é substituído por uma bola aérea e demoníaca – um estado maravilhoso!
Muitos dos poemas contemporâneos, poemas de liberdade, exercem também um efeito de exorcismo, mas dum exorcismo por manha. Por manha da natureza subconsciente que se defende graças a uma elaboração imaginativa apropriada: os sonhos. Por manha preparada ou hesitante, procurando o seu melhor e ideal ponto de aplicação: os sonhos acordados.
Não só os sonhos mas também uma infinidade de pensamentos são "para escapar", e até sistemas de filosofias foram sobretudo exorcismos que julgavam ser algo bem diferente.
Efeito libertador semelhante, mas natureza perfeitamente diferente.
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Esta subida vertical e explosiva é um dos grandes momentos da existência. Nunca seria demais aconselhar o seu exercício aos que vivem a contragosto numa dependência infeliz. Mas o arrancar do motor é difícil, só o quase-desespero o consegue.
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- Henry Michaux
in O Retiro pelo Risco, Fenda

1 comentário:

Luís França disse...

http://livrosfenda.blogspot.com/2011/02/henri-michaux-o-retiro-pelo-risco.html