sexta-feira, março 09, 2012

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud!

Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Os teus dezoito anos refractários à amizade, à malevolência, à estupidez dos poetas de Paris bem como ao ronronar da abelha estéril da tua família um pouco louca das Ardenas, fizeste bem em espalhá-los ao vento do largo, em atirá-los para debaixo da lamina da tua precoce guilhotina. Tiveste razão em abandonar o boulevard dos preguiçosos, os estaminés dos "fala-barato", trocando-os pelo inferno dos animais, pelo comércio dos habilidosos e o bom-dia dos simples.
Esse absurdo impulso do corpo e da alma, essa bala de canhão que atinge o alvo fazendo-o rebentar, sim, é isso a vida de um homem! Não se pode, ao sair da infância, estrangular constantemente o próximo. Se os vulcões pouco mudam de lugar, a sua lava percorre o grande vazio do mundo trazendo-lhes virtudes que cantam nas suas feridas.
Fizeste bem em partir, Arthur Rimbaud! Há alguns de nós dispostos a acreditar sem provas que a felicidade é possível contigo.

- René Char
(Tradução de Yvette K. Centeno)
in Este fanático das nuvens, Cotovia

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