terça-feira, março 13, 2012

TRABALHOS DO POETA

[1949]


XIV

Tortuosamente, avançando milímetros por ano, abro um caminho pela rocha. Desde há milénios os meus dentes se gastam e as minhas unhas partem-se para lá chegar, ao outro lado, à luz e ao ar livre. E agora que as minhas mãos sangram e os meus dentes tremem, inseguros, numa cavidade aberta pela sede e pelo pó, detenho-me e contemplo a minha obra: passei a segunda metade da minha vida partindo pedra, perfurando muralhas, abrindo portas e removendo obstáculos que interpus entre mim e a luz durante a primeira metade da minha vida.

- Octavio Paz
in Águila o sol?

Sem comentários: