ou apenas esse tremor que às vezes resta
depois de se ter escrito alguns versos,
justifica uma vida? Eu sei que não.
Mas também não ignoro que, não contendo
a chave da existência, essas palavras
dirão que quem as dispôs na sua harmonia
soube ordenar o mundo. Isso basta?
Os anos vão passando e eu sei que não.
Há algo de grandioso nesta luta
e de um certo modo tenho
a difusa certeza de que existe
um verso que contém esse segredo
trivial e abominável da rosa:
a beleza é o rosto da morte.
Se encontrasse esse verso seria suficiente?
Talvez não. A sua verdade seria tanta
que fosse possível criar um mundo, para dar
uma cor nova à noite e à lua
um anel de fogo, e uns olhos
e uma alma a Galateia, e mares
de neve aos desertos? Eu sei que não.
- Felipe Benítez Reyes
in Libros de Poemas, Visor
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