domingo, abril 14, 2013

as coisas


A bengala, as moedas, o chaveiro
A dócil fechadura, as tardias
Notas que não lerão os poucos dias
Que me restam, o baralho e o tabuleiro,
Um livro e entre as suas folhas a esvaecida
Violeta, monumento de uma tarde
Memorável, decerto, e já esquecida,
O rubro espelho ocidental em que arde
Uma ilusória aurora. Quantas coisas,
Limas, umbrais e atlas, taças, cravos,
Servem-nos como tácitos escravos,
Cegas e estranhamente sigilosas!
Nós já esquecidos, e durarão mais;
Sem nem saber que partimos, jamais.

- Jorge Luis Borges
(tradução de Josely Vianna Baptista)
in Poesia, Companhia das Letras

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