sexta-feira, setembro 27, 2013


A noite é este estrago.
Dou-me ao trabalho
de apanhar algumas das tuas roupas
espalhadas pelo chão,
parecem-me agora tão leves,
indefesas sem os teus gestos.

A urgência que vêm lá de fora
Confunde-me na sua nitidez:
uma buzina primitiva e frenética (por pouco tempo),
ou os ultimatos de um casal desmentindo-se,
aterram no escuro, entre a chuva inesperada
e a nudez aguçada dos estendais.

São as tuas costas arqueadas que espio,
os soluços marcados da tua magreza,
de onde se vão desatando pequenas ocupações,
algum desleixo muito habituado. Um rumor alheio,
como se eu tivesse já ido embora.

Quando menos espero, uma mão cega
vem pousar no meu joelho.
Aos poucos chegam as outras partes doridas.
Parece que segredamos alguma coisa.

- Frederico Pedreira

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