segunda-feira, abril 24, 2017

De Pacheco a Mexia


Aproveitando o excelente paralelo estabelecido pelo Pedro Piedade Marques, esta nota ia para um especial sobre o 25 de Abril, antes e depois, mas... fomos "autocensurados":

A NOVA MORDAÇA
(De Pacheco a Mexia, do “Diário remendado” ao crédito “Malparado”)
“Há uma autocensura na vida quotidiana que nos faz civilizados, ninguém diz tudo o que lhe passa pela cabeça”, disse há dias numa entrevista ao “Diário de Notícias” o bloguer, cronista, poeta, crítico literário, crítico de cinema, editor, comentador político, comendador, conselheiro cultural do Presidente da República e tudo e tudo, Pedro Mexia. Magnificente exemplo do nepotismo que nunca perdeu o viço na nossa sociedade, e um dos mais célebres diaristas, cavaleiro da ordem do bom senso, zelador-mor da pátria contra os excessos, poster-boy do país dos brancos costumes, Pedro Mexia ataca as redes sociais e o Facebook enquanto vive hoje numa espécie de reality show em várias plataformas e canais mediáticos, onde partilha os seus gostos e assume os máximos cuidados para não melindrar ninguém. Como notou o editor Vitor Silva Tavares, serve para nos lembrar que se isto “mexia, já não mexe”, talvez porque a liberdade soube internalizar o espírito de censura. Se tivemos Luiz Pacheco, que nunca deixou que a literatura se confundisse com uma récita para consumo burguês, para consolo das famílias e defesa dos pacatos valores “cristãos”, hoje temos esta omnipresente figura evangelista com a sua missa da moral e decência. Em tudo o que Pacheco foi exemplo do excesso e da depravação, misturando sangue e tinta na defesa da vital via libertária, Mexia faz as suas meias tintas deitando água benta e é o nosso sacristão de Estado.

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